HIBRIDAÇÃO E MUTAÇÕES
A HIBRIDAÇÃO Na linguagem quotidiana dos criadores de aves em geral, todos conhecem o conceito da hibridação como o cruzamento de duas espécies de géneros distintos, assim como o conceito de híbridos, que corresponde ao exemplar nascido do dito cruzamento. E evidente que forma parte do mundo da genética como tal, na sua vertente de transmissão de caracteres. Na obstante, a árdua tarefa que supõe a investigação dos ditos cruzamentos, probas de trabalho e anos que implicam de forma especifica o sue conteúdo e conceito de hibridologia como essa parte da genética que estuda o cruzamento das espécies e géneros, a transmissão dos caracteres (mutações) entre eles e seus comportamentos. Nos criadores dispomos de dois métodos fundamentais para melhorar as nossas aves: um é a selecção e o outro, a hibridação. A selecção consiste em eleger do nosso plantel as aves que reúnem as melhores condições para o fim que pretendemos. Exemplo: das mutações já conseguidas através da selecção tentamos chegar ao canário negro; as mutações que utilizaríamos para este fim podiam ser o cobalto, o ónix, o negro bruno, aves com a máxima oxidação e pele bem negra etc. Com a selecção o homem conseguiu resultados interessantes, um deles e o canário de postura, surgido de varias selecções ao longo dos anos. Com a hibridação, passa-se o contrario, não nos limitamos só em eleger entre as aves que temos mas também em procurar novos tipos que se reprodução com caracteres diferentes, mediante o cruzamento entre distintas espécies de diferentes caracteres e géneros, como seria o caso do canário, do género serinos, e cardinalito do género carduelis. Pela hibridação podemos juntar num numa só ave vários caracteres ou mutações. A hibridação é o cruzamento de duas espécies ou géneros diferentes. Para mim a hibridação e um trabalho que efectuo com o objectivo de conseguir passar mutações de uma espécie para outra e obter novas raças e espécies. A minha teoria sobre este ponto de vista, e o seguinte: sempre que se cruzam varias espécies ou genes distintos e seus híbridos se possam reproduzir entre si, o choque genético que se produz gerara um novo acoplamento de seus genes, que se transmitiram de geração em geração, o resultado deste conjunto de acoplamentos é de tal forma que uma vês fixadas as características, a ave, que era heterozigoto, se á transformado em homozigoto, criando assim uma nova raça ou espécie. Um híbrido é um heterozigoto, um F1 nascido de pais de diferentes espécies ou géneros distintos, homozigotos cada um na sua espécie, que se cruzam para conseguir novas raças ou simplesmente para passar certos caracteres de uma espécie a outra, fazendo dos seus filhos portadores dos ditos caracteres, com respeito a sua espécie homozigotica, para ele os caracteres transmitidos são ligados ao sexo recessivos o ou caracyeres de herança recessiva autosonica. Exemplo: cardinalito portador de Isabel, canário normal portador de cobalto e ónix. Há casos em que o portador só pode viver em estado heterozigose, chamado de híbrido permanente. Como tal o cruzamento com outras aves, tem que realizar-se assim, em heterozigose. A estes híbridos não ocorre o mesmo que a outra ave de espécie normal, que vive em estado homozigoto, (pintassilgo, canário branco semi-dominante, portador de amarelo), pois este é eliminado pelos genes letais que tem em seu genotipo. Falar de heterocigoto, portador ou F1 e falar de híbridos, já que em essência, são aves que bem por mutação, manipulação ou hibridação, não tendo a mesma concepção genética em seu par decromosomas que os da espécie a que pertencem. É importante estabelecer uma diferença entre o híbrido que dentro de si leva para transmitir um carácter diferente á sua espécie, também chamado de monohibrido ou portador do carácter. Exemplo: cardinalito normal x cardinalito Isabel. O híbrido que obtemos é um monohibrido ou prtador de Isabel. Que diferenciaremos dum híbrido obtido pelo cruzamento de duas espécies distintas, com o qual pretendemos obter uma nova espécie ou raça. Como podem observar nesta altura temos cinco nomes para dizer o mesmo. Ou seja uma ave que no seu par de cromosomas tem um gene diferente do da sua espécie. A alteração do nome tem a ver com o estudo (fim) que iremos realizar nesse momento. Em segundo caso, a única coisa que muda é que com este cruzamento, não pretendemos passar nenhum carácter, mas sim cruzar duas espécies ou géneros distintos para obter uma nova raça ou espécie. Não pretendemos apurar nenhum carácter em particular, o que nos interessa é o resultado da mistura acoplada destas duas espécies ou géneros homozigotas que se cruzaram. Exemplo: macho cardinalito da Venezuela x fêmea xanthogastra. Os híbridos que obtivermos tem 50% de cardinalito e 50% de xanthogastra. Ou seja todas estas aves F1 portadoras de um carácter são monohibridas da sua raça ou espécie em estado heterozigoto, já que possuem um carácter que não tem a sua espécie homozigota. Ainda que o nome de híbrido se aplique ao cruzamento de duas espécies ou géneros diferentes, também é híbrido o individuo que tem um ou mais caracteres diferentes da sua espécie, por norma é aplicado ao cruzamento de duas aves, incluso mestiços, sempre que algum deles é possuidor de um carácter e então seria também híbrido com respeito a esse carácter. Exemplo: verdilhão da china silvestre x verdilhão europeu Isabel: as crias serão mestiços, pois é um cruzamento de duas raças da mesma espécie, cujas crias são férteis machos e fêmeas; híbrido com respeito ao carácter isabel e monohibrido por ser um híbrido que só transmite um carácter extra na espécie; portador porque assim designamos os heterozigotos por terem um carácter ou gene distinto ao da sua espécie. Para que compreendam melhor é como se quisemos entrar em casa e cada entrada tem um nome diferente, (F1, híbrido, portador e monohibrido), mas o resultado será sempre o mesmo entrar em casa. Assim como o nosso resultado é uma ave que em seus cromosomas tem um gene distinto do outro e portanto não são homozigotos na sua espécie. Sempre que cruzamos um monohibrido (portador, heterozigoto) de carácter dominante com um recessivo puro, o fenotipo de todas as suas crias da primeira geração será 50% de fenotipo dominante e 50% de carácter recessivo. Exemplo: canário amarelo, monohibrido do carácter branco recessivo x branco recessivo, homozigoto. Obteremos 50% de canários amarelos e 50% de canários brancos recessivos. Dihibrido é uma ave que dentro da si tem dois caracteres para transmitir á sua descendência. Exemplo: canário portador de ónix e cobalto. Estes caracteres ónix e cobalto podem ser transmitidos a sua descendência, cruzando dois portadores, e ao unirem-se os dois genes que regem cada carácter, obtínhamos crias ónix, crias cobalto e crias ónix-cobalto. Contudo, no dihibrido de duas espécies diferentes não ocorre o mesmo e para melhor compreenderem menciono duas espécies distintas, cardinalito x negrito da bolívia. As ordens do cardinalito seria "gerar um cardinalito" a ordem do negrito seria "gerar um negrito". Ou seja que estes genes contraditórios tenham um choque genético que devem juntar-se novamente para formar um novo individuo, que dará origem a um novo fenotipo e a uma nova raça ou espécie. Temos ainda os trihibridos e polihibridos são aquelas aves que dentro de si mesmo tem três, quatro ou mais caracteres para transmitir a sua descendência, contudo trihibridos e polihibridos de espécies como as que falamos anteriormente, são aquelas que se cruzam varias espécies com a finalidade de se conseguir uma nova raça ou espécie. Por exemplo: cardinalito x negrito e com um xanthogastra, para obter dos três cruzamentos um cardinalito negro ou uma raça ou espécie nova. Segundo alguns critérios ao transmitirmos um, dois ou três caracteres estamos a transmitir um, dois ou três genes se o carácter e homozigoto e pode ocurrer dentro da mesma espécie ou de uma espécie para outra. Exemplo: dentro da mesma espécie, canário normal portador ou monohibrido de ónix, canário normal portador ou dihibrido de ónix e cobalto e canário normal portador ou trihibrido de ónix, cobalto e refracção azul. Passar de uma espécie a outra distinta, por exemplo o carácter ou mutação Isabel do cardinalito da venezuela ao negrito da bolívia ou o branco semi-dominante do canário ao verdelhão (serinos serinos), criando a raça de verdilhão gris. Quando falamos de cruzar dois três ou quartro espécies diferentes, sem caracteres de nenhuma classe, se não a homozigosis da mesma espécie, estamos a falar de cruzar milhares de genes, para criar uma raça ou espécie nova. Aqui te deixo uma serie de cruzamentos retirados de um artigo de um especialista espanhol e gentilmente traduzidos pelo Ivo: -Negrito de Bolívia (Carduelis atrata) x Cardenalito de Venezuela (carduelis cucullata) ou vice-versa; híbridos férteis, machos e fêmeas, a 100%. -Negrito de Bolívia x Xanthogastra ou vice-versa; híbridos férteis machos e fêmeas a 100%. -Negrito de Bolívia x Cabecita negra (Carduelis magallanicus) ou vice-versa; são férteis machos a 100% e fêmeas a 90%. -Negrito de Bolívia x Cabecita negra de peito negro (Carduelis notata) ou vice-versa; são férteis os machos, as fêmeas não são, ou a fertilidade é muito baixa. -Negrito de Bolívia x Lugre (Carduelis spinus); machos férteis, fêmeas a 50%. -Negrito de Bolívia x Canário (Serinus canaria); machos quase totalmente estéreis, não chegam a 10%, fêmeas estéreis. -Negrito de Bolívia x Pintassilgo (Carduelis carduelis); machos e fêmeas estéreis. -Negrito de Bolívia x Chamariz (Serinus serinus); machos e fêmeas estéreis. -Negrito de Bolívia x Verdilhão serrano (Carduelis citrinella); machos e fêmeas estéreis. -Negrito de Bolívia x Verdilhão comum (Carduelis Chloris); machos e fêmeas estéreis. -Negrito de Bolívia x Chamariz de frente vermelha (Serinus pusillus); machos e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Cabecita negra ou vice-versa; machos férteis a 90% e fêmeas férteis a 80%. -Cardenalito de Venezuela x Xanthogastra ou vice-versa; machos férteis a 100% e fêmeas férteis a 90%. -Cardenalito de Venezuela x Pardillo comun (Carduelis cannabina); machos e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Lugre; machos férteis e fêmeas de escassa fertilidade. -Cardenalito de Venezuela x Canário; machos férteis a 50% e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Chamariz ou vice-versa; machos férteis a 50% e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Alario (Serinus alario) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Pintassilgo; machos e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Verdilhão; machos e fêmeas estéreis. -Cardenalito de Venezuela x Dom-Fafe comun (Pyrrhula Pyrrhula); machos e fêmeas estéreis. -Cabecita negra x Lugre ou vice-versa; machos e fêmeas com escassa fertilidade. -Cabecita negra x Verdilhão de cabeça negra (Carduelis ambigua); machos e fêmeas estéreis. -Cabecita negra x Canário; machos de escassa fertilidade e fêmeas estéreis. -Cabecita negra x Cabecita de peito negro ou vice-versa; machos e fêmeas férteis a 100%. -Canário x Xanthogastra ou vice-versa; machos férteis a 50% e fêmeas estéreis. -Canário x Negrito de Bolívia ou vice-versa; machos férteis a 8%, fêmeas estéreis. -Canário x Cabecita negra; machos férteis a 20% e fêmeas estéreis. -Canário x Cabecita negra de peito negro; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Chamariz ou vice-versa; machos férteis a 100% e fêmeas férteis a 10%. -Canário x Lugre ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Pintassilgo ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Pardal; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Verdilhão ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Canário de Moçambique (Serinus mozambicus) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Cantor de África (Serinus leucopygius) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Chamariz de frente vermelha ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Alario ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário doméstico x Canio silvestre ou vice-versa; machos e fêmeas férteis. -Canário x Pinzón comum (Fringilla coelebs) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Pinzón real (Fringilla montifringilla) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Pinzón azul (Fringilla teydea) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Verdilhão azul (Passerina cianea) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Brasita de fuego (Coryphospingus cucullatus) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Dom-Fafe comum ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Canário x Dom-Fafe Mexicano (Carpodacus mexicanus) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Lugre ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Cabecita de peito negro ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Cabecita negra ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Dom-fafe comum ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Verdilhão ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Verdilhão del Himalaya (Carduelis spinoides); machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Canário de Moçambique; machos e fêmeas estéreis. -Pintassilgo x Dom-Fafe mejicano; machos e fêmeas estéreis. -Pardillo comun x Pardillo sicerín (Carduelis flammea) ou vice-versa; machos e fêmeas estéreis. -Pardal comum x Pintassilgo; machos e fêmeas estéreis. -Pardal comum x Verdilhão; machos e fêmeas estéreis. -Pardal comum x Chamariz; machos e fêmeas estéreis. -Pardal comum x Negrito de Bolívia; machos e fêmeas estéreis.
* experiências sobre hibridação. Cruzando um Serinus serinus COM FEMEA DE CANARIO ISABELINO ACETINADO, ele obteve machos F1 de cor verde, bem como femeas F1 ifualmente verdes. Os machos têm se apresentado fértis. Cruzando um macho F1 com uma femea de canario isabelino acetinado, obteve machos e femeas R1 verdes, marrons e acetinados; entre os R1, algumas fémeas são fecundas. Cruzando macho F1 x fémea se serino, obteve machos e fémeas R1 todos verdes. Os hibridos R1 saidos de canarios são bem mais corpulentos que os hibridos R1 saidos de serino. Entre os R1 não há ágatas ou isabelinos de olhos negros, e os acetinados obtidos apresentam leves estrias beges; são isabelinos acetinados.
Esses dados mostram que as espécies de canário e serino são vizinhas. Mostram tambem que o fator acetinado é um alelo do fator RB do canario isabelino. Para o macho F1 escreve-se n+rb+n rbs o que explica o aparecimento em R1 de hibridos verdes (n+rb+), marrons (n rb+), isabelino acetinado (n rbs) e se pode esperar ágatas acetinados (n=rbs) de olhos avermelhados e sem melanina aparente. A diferença de tamanho entre os R1 obtidos de canario e os R1 saidos de serino mostra que o tamanho faz intervir numerosos genes cujos efeitos se juntam. Cruzando-se hibridos R1, verdes, marrons ou isabelino acetinados, com R1- serino e serinos puros pode-se consseguir variedades novas de serinos: serino canela, isabelino acetinado e agata acetinado. Partindo-se do cruzamento serino X canario ágata de olhos negros, pode-se chegar aos serinos ágatas de olhos negros. ~
* HIBRIDAÇÃO E AS SUAS CONSEQÜÊNCIAS
Maurice Pomarède – França
Revista Pássaros Ano 7-nro 35/2002
Anuário técnico Oficial 4C
Arquivo editado em 25 Maio 2003
DEFINIÇÕES
A hibridação consiste no cruzamento de aves diferentes. Os híbridos são o resultado desse cruzamento. Pode-se distinguir:
HÍBRIDOS INTER-ESPECÍFICOS: Seus pais pertencem a espécies diferentes. Por exemplo, pintassilgo x canário. Na natureza esses pássaros não se cruzam entre si, porém em cativeiro esse acasalamento é possível.
Estes híbridos são freqüentemente chamados de mulas, por analogia do acasalamento jumento e égua.
HÍBRIDOS INTRA-ESPECÍFICOS: Seus pais pertencem à mesma espécie. Por exemplo, canário border x canário de cor. Os canários border e os de cor pertencem a duas raças diferentes. Os híbridos são chamados de mestiços. Enquanto as mulas são freqüentemente estéreis, os mestiços são geralmente férteis.
HÍBRIDOS MENDELIANOS: Seus pais pertencem a uma mesma espécie, porém eles também são de raça pura. Uma ave é de raça pura quando vem de uma linhagem onde todos são semelhantes. Mendel descobriu as leis de hereditariedade através de cruzamentos de pais de raça pura, depois seus descendentes.
Em genética os indivíduos de primeira geração formam os F1 que, cruzando-se entre si, resultam em uma segunda geração os F2. Acasalando-se um híbrido F1 com seu pai ou sua mãe obtém-se um R1; na utilização de um indivíduo F2, obtém-se um R2.
PARTICULARIDADES DOS HÍBRIDOS
SEMELHANÇA DOS HÍBRIDOS Os híbridos inter-especifícios por terem a mesma origem são geralmente parecidos. Dessa forma, quando se cruza um pintassilgo (Carduelis carduelis) com um canário verde (muito próximo do canário silvestre), os pássaros obtidos são muito parecidos de aspecto, são de cor escura, com forma intermediária entre aquela do pintassilgo e a do canário, o bico é ponteagudo, como aquele do pintassilgo e apresentam máscara vermelha alaranjada, comparável aquela do pintassilgo, porém menos colorida e clara. Isto ocorre porque as espécies silvestres devem seu aspecto (ou fenótipo) aos genes dominantes, que são os mesmos para todos os pintassilgos. Todos os canários silvestres têm também em comum seus genes dominantes. Freqüentemente as aves silvestres são puras para seus caracteres principais; em outras palavras, os dois genes correspondentes ao mesmo caracter são idênticos.
Conseqüentemente os híbridos pintassilgo português x canário verde são comparáveis aos híbridos mendelianos e são parecidos. Porém ocorrem exceções. Por exemplo híbridos F1 de pintassilgo português x canário podem não ter a máscara vermelha alaranjada, Machos híbridos pintassilgo (Carduelis cannabina) canário verde podem não ter o peito cor de rosa.
Estas exceções são devidas aos pais não serem puros. A ausência da máscara num híbrido F1 de pintassilgo português x canário verde pode ser explicada da seguinte maneira: a máscara do pintassilgo português é devida provavelmente a um gene dominante que inibe o depósito de melanina, o que explica a cor branca e torna possível o depósito de carotenóide vermelho. Se o fator inibidor está presente em dobro (duplo exemplar), todos os híbridos e todos apresentarão máscara. Porém se o fator inibidor existe somente em um único exemplar, terá apenas a metade de híbridos F1 que a receberão, ficando os outros híbridos sem máscara.
Esta hipótese parece correta. Realmente constata-se que os híbridos F1 sem máscara são sempre fêmeas. Isto se explica admitindo-se que o fator inibidor dominante está ligado ao sexo. Conseqüentemente um macho pintassilgo português heterozigoto poderá dar fêmeas F1 normais e fêmeas F1 sem máscara. Pelo contrário, com uma fêmea pintassilgo português obter-se-á sempre híbridos F1 com máscara. Com o Diamente de Gould tem-se um caso parecido: a máscara vermelha é devida a um fator dominante inibidor da melanina, o que permite o depósito do carotenóide vermelho; um dominante macho com máscara vermelha, porém heterozigoto, dá fêmeas que tanta podem ser com máscara vermelha como sem máscara (portanto, com máscara negra). Com uma fêmea de diamante com máscara vermelha tem-se os 100% de diamantes F1 com máscara vermelha.
Os híbridos F1 de pintassilgo português x canário, que têm peito verde-musgo, podem tembém serem explicados admitindo-se que no pintassilgo existe um fator inibidor-dominante que limitaria o depósito de melanina no peito. Se o pintassilgo macho é heterezigoto para este fator, alguns híbridos F1 não receberão o fator inibidor; seu peito então será verde como no canário verde.
Cada vez que um criador obtém um híbrido excepcional, seus pais devem ser conservados. Esses pais permitirão continuar a hibridação ou, ainda, servirão para obter-se raças que darão rapidamente novas mutações.
HEREDITARIEDADE LIGADA AO SEXO Os caracteres ligados ao sexo presentes no pai podem apresentar-se nas fêmeas híbridas F1. Desta forma, cruzando-se canário acetinado macho x f?emea pintassilgo português, obtêm-se fêmeas normais e fêmeas F1 acetinadas (em outras palavras, sem melanina negra e com olhos vermelhos).
Com um canário isabelino pastel macho, pode-se obter fêmeas F1 isabelino pastel. Os caracteres marfim, canela, ágata, isabelino, acetinado e pastel são ligados ao sexo no canário: podem passar juntos ou separadamente para fêmeas híbridas.
ESTERILIDADES DOS HÍBRIDOS Um híbrido F1 recebe a metade de seus cromossomas de seu pai e outra metade de sua mãe. Para que ele seja fértil é indispensável que seus cromossomas possam formar pares. Senão a formação das células reprodutivas não ocorreriam. Conseqüentemente tem-se fêmea F1 que não põe ou macho F1 que não consegue fecundar (daí os ovos claros).
Se os cromossomas recebidos pelo híbrido F1 são pouco diferentes, o híbrido pode ser fértil.
Quando se acasala duas aves de espécies diferentes, a fertilidade fica proporcional a quanto mais vizinhas forem essas espécies:
-Mesma espécie: 100% de fertilidade dos híbridos;
-Espécies vizinhas: alguns híbridos são férteis;
-Espécies muito vizinhas: machos férteis; fêmeas estéreis;
-Espécies bastante vizinhas: machos férteis, todas fêmeas estéreis;
-Espécies pouco vizinhas: alguns machos férteis, todas fêmeas estéreis.
-Espécies bem diferentes: todos os híbridos são estéreis.
As espécies muito vizinhas seriam as pertencentes ao mesmo gênero (exemplo: Serino Serinus serinus e canário) e as espécies muito diferentes pertenceriam a famílias diferentes )exemplo: Pontífice índigo Passerina cyanea x canário).
Com relação ao canário, alguns híbridos férteis foram conseguidos pelo acasalamento com pássaros do gênero Serinus e Carduelis (spinus, chloris). A fertilidade dos híbridos é muito importante para conhecer-se o grau de parentesco entre duas espécies. Quanto mais aparecem híbridos férteis, mais os cromossomos são semelhantes e mais o parentesco é importante.
TAMANHO E COR DO HÍBRIDOS O tamanho dos híbridos é geralmente intermediário entre os tamanhos dos pais. Isto é decorrência de que o tamanho é comandado por numerosos genes cujas ações se completam (co-dominância). Portanto, é possível que uns híbridos sejam maiores que seus pais, isto ocorre geralmente nos híbridos inter-raciais (híbridos intra-específicos) e este fenômeno é denominado heterosis. Pode ser explicado admitindo-se que teve aquisição de novos genes para os híbridos. Esta aquisição decorre freqüentemente como conseqüência de uma inversão cromossômica, isto é, da presença de um fragmento de cromossomo onde os genes são alinhados em posição inversa da normal. No híbrido, por aí ter acúmulo da porção normal acarretar um aumento de tamanho.
A cor dos híbridos F1 é geralmente menos viva e menos delimitada que a dos pais. A máscara do híbrido F1 de pintassilgo português x canário é menos vermelha e menos clara que no pintassilgo; o híbrido F1 de pintassilgo da Venezuela (Carduelis cucullata) x canário tem menos vermelho que o pintassilgo. Isto ocorre porque a cor vermelha e sua localização dependem de vários genes que são passados todos para os híbridos. A presença de uma cor depende freqüentemente de uma série de reações químicas, e a sua situação na plumagem depende de fatores de localização.
LEIS DE MENDEL E HIBRIDAÇÃO Aves de espécies diferentes podem ter os mesmos genes (fator pastel, fator marfim, fator ino – por exemplo), porém estes genes podem ocupar posições diferentes sobre os cromossomos. Conseqüentemente duas aves de plumagem pastel (melaninas diluídas) terão ainda o fator pastel, porém os genes correspondentes não serão alelos. Ora, as leis de Mendel dizem respeito a genes alelos.
Acontece que as proporções dadas pelas leis de Mendel (por exemplo ¼, ½, ¼ em F2) não se observam no caso de híbridos F1; os tipos novos são muito menos freqüentes que os previstos. Isto permite compreender porque na hibridação pintassilgo português x canário aparecem muito poucas fêmeas sem máscaras em vez de 50% e também porque os machos férteis quase não ocorrem, quando deveriam ser em torno de 50%. Uma ave macho possui dois cromossomos X, um provindo do seu pai e outro de sua mãe. No caso dos machos F1 pintassilgo x canário, os dois cromossomos X não são muito diferentes e isto explica porque estes machos podem ser férteis. Porém um outro fenômeno intervém; no macho um dos X fica em repouso e forma um corpúsculo, o corpúsculo de Barr. Um macho F1, cujo X ativo provém do canário, seria fértil com uma fêmea canário. Embora que estatisticamente 50% de machos F1 devem seu X ativo ao canário, entre eles muitos poucos são férteis. Um macho F1 estéril pode tornar-se fértil ao fim de alguns anos e o inverso é possível; pode-se pensar que o X ativo não é sempre o mesmo.
CONSEQÜÊNCIAS O estudo de híbridos apresenta um grande interesse científico. Ele permite saber se duas espécies são aparentadas ou não. Ele permite também saber como são colocados no lugar alguns caracteres como o topete ou a cor vermelha.
Os híbridos férteis permitem obter raças novas. Isto é muito fácil no caso de caracteres ligados ao sexo; assim a mutação lutino (ausência de melaninas) do diamante de Kittlitz (Erythrura trlchroa) pode ser transmitido ao diamante da Nouméia (Eruthtuta pslttacea). Assim pode-se passar as mutações isabelino e acetinado do canário para o serino. No caso de mutalções não ligadas ao sexo são necessárias duas gerações, a segunda proveniente de um <> (R1). Umas mudanças de genes foram realizadas de psitacídeos dos gêneros Euphema, Psittacula ou entre agapornis.
A hibridação favorece as mutações <>. Quando os cromossomos são diferentes, eles têm tendências a se fragmentar. Conseqüentemente os híbridos podem ter, mais ou memos, fragmentos de cromossomos. Isto pode ser a origem de novos caracteres. O canário de fator vermelho provem da hibridação do pintassilgo da Venezuela x canário, e provavelmente o canário mosaico tenha mascido de uma hibridação entre um silvestre (pintassilgo português? Verdilhão Carduelis chloris?) x canário branco dominante, ou ainda pintassilgo da Venezuela x canário branco dominante.
Mesmo estéreis, os híbridos são muito interessantes pela sua beleza. Algumas hibridações são muito raras porque são difíceis de se obter são o caso da hibridação agapornis x periquito ondulado. Três casos foram mencionados, um em 1890, com Agapornis cana, o segundo em 1910, com Agapornis personata nigrigenis e o terceiro em 1985, com Agapornis roseicollis. A hibridação é uma arte difícil. Não é fácil provocar a atração sexual entre duas aves que não se acasalam na natureza. É indispensável que a hibridação seja encorajada e recompensada nos concursos.