As diversas cores que compõem a nomenclatura oficial FOB/OBJO são fruto, em sua grande maioria, de mutações que foram criadas e selecionadas pelo homem nos últimos 500 anos.
Todas elas se originaram a partir do canário original, que era o que nós chamamos hoje de verde nevado. Esse pássaro era um especialista em sobreviver e multiplicar-se no ambiente selvagem. Sua coloração e seus hábitos eram os mais apropriados para a sobrevivência naquele tipo de ambiente.
À medida que este pássaro foi sendo criado em cativeiro, começaram a aparecer espontaneamente, as mutações que chamaram a atenção do homem e que passou, então, a selecioná-las.Essas mutações, que nada tinham a ver com a capacidade de sobrevivência, foram deixando nossos canários de cor cada vez mais distantes daquele canário verde original.
Com isso foram surgindo as diversas linhas de cor da nomenclatura (que são mutações). As principais são: pastel, opalino, feos, acetinados, asas cinzas e, mais recentemente topázio e eumo.
A finalidade do presente artigo é analisar a importância do uso dos portadores no trabalho de seleção e melhoria de algumas dessas linhas.
Em relação à linha escura, e falando-se genericamente, portadores são pássaros que pertencem a uma das quatro cores clássicas básicas e em cujo patrimônio genético existem genes que possam produzir em sua respectiva prole alguma das mutações referidas acima.
As quatro cores clássicas básicas que são os negros marrons oxidados (verdes, azuis e cobres), os canelas, os ágatas e os isabelinos, são os canários dentro da linha escura que estão mais próximos, geneticamente falando, do canário verde original. Por estarem mais próximos do verde original, possuem também em seu patrimônio genético; características que os tornam mais aptos à sobrevivência, o que resulta em maior produtividade.
Isso pode ser comprovado pela prática, e a maioria dos criadores sabe que as cores clássicas, normalmente, “criam melhor” do que as suas respectivas mutações.
Diante disso, o uso de portadores na produção de linhagens de mutantes (pastel, opalinos, feos, acetinados, e Tc) justifica-se pela obtenção de proles mais numerosas e teoricamente com maior vigor.
Colocando-se isso à parte, e tratando-se exclusivamente da qualidade melânica, qual a importância dos portadores nesse processo? Qual a relação entre as melaninas que se vê nos portadores e as que se deseja nos puros?
Para entendermos melhor esse processo, poderemos dividir as mutações ou linha de cor em dois grandes grupos: um grupo em que a presença de feomelanina é desejável e outro grupo (maior) em que essa presença é indesejável.
No primeiro grupo, temos os feos (todos) e os canelas pastéis. No segundo grupo, temos todas as outras cores (opalinos, acetinados, etc., inclusive os outros pastéis, ágatas, isabelinos e negros marrons oxidados).
No primeiro grupo, a relação entre as melaninas dos portadores e a dos puros correspondentes é mais direta. Se tivermos portadores com boa carga de feomelanina, teremos puros também com boa carga dela. Nesse caso estamos tratando apenas de herança feomelânica, mas sabemos que os padrões de excelência são ditados também por outras características, como eumelanina dispersa e distribuição feomelânica.
Tanto no caso dos feos como dos canelas pastéis, o uso dos portadores pode auxiliar-nos no manejo da distribuição feomelânica.
Portadores “apastelados” nos dão melhores canelas pastéis, mas podem produzir feos com desenho deficiente. Ao contrário, portadores mais eumelânicos podem resultar em canelas pastéis marcados, o que é indesejável, mas podem produzir feos com melhor desenho.
No segundo grupo, a coisa se torna um pouco mais complexa. Nem sempre a eumelanina presente nos portadores terá uma relação direta com a que se deseja dos puros.
Existem inúmeras ocorrências na prática que comprovam isso.
Começando pelos acetinados, que podemos obter a partir tanto dos isabelinos como dos canelas. Alguns criadores acreditam que se pode obter acetinados “mais marcados” a partir dos canelas, coisa que não se comprova na prática. A eumelanina “acetinada” não possui uma relação direta com a eumelanina dos canelas, uma vez que podemos obter isabelinos, que possuem eumelanina marrom fortemente reduzida (chamamos de Diluída) em relação aos canelas.
Uma linhagem de excelentes acetinados poderá ser obtida tanto de isabelinos como de canelas, desde que a seleção dos exemplares seja feita em cima dos acetinados, colocando-se um pouco de lado a melanina dos portadores.
Por outro lado, a credita-se que o acasalamento entre dois acetinados trará como conseqüência um enfraquecimento do desenho, coisa que também não corresponde à realidade. O acasalamento entre dois acetinados não traz qualquer efeito deletério à qualidade melânica dos pássaros, pelo contrario, é mais fácil selecionar os exemplares vendo a melanina que se quer.
Com relação à produção de filhotes, a coisa muda, e aí sim é desejável o uso dos portadores (canelas ou isabelinos) de uma linhagem que reconhecidamente produza bons acetinados. Nesse caso e em outros veremos que também é assim, é importante que se tenha uma linhagem de portadores que produza bons exemplares com as características do padrão que se quer obter.
Em relação aos opalinos, a situação não é diferente, notadamente nos canelas opalinos, em que canelas clássicos bastante oxidados e com pouca feomelanina, nem sempre produzem os melhores canelas opalinos. Mais uma vez é importante obter-se uma linhagem de portadores que tenham a capacidade de transmitir aquelas melaninas que se deseja.
Pela minha experiência os melhores canelas opalinos são obtidos a partir de portadores que possuam boas qualidades das duas melaninas (Eu e Feo). Quanto aos ágatas e isabelinos opalinos, é obrigatório que os portadores tenham o mínimo possível de feomelanina.
Em ambos os casos, o acasalamento entre dois pássaros puros não traz qualquer prejuízo em relação às melaninas dos produtos.
Sabemos que a mutação opalina inibe a manifestação de feomelanina. Entretanto, essa inibição não ocorre em sua plenitude e sabemos também que pássaros com muita feomelanina dão origem a opalinos com a manifestação melânica do dorso mais opaca e menos nítida. Isso se deve a feomelanina residual que, afetada pelo fator opalino, dá-nos essa impressão de menor nitidez do desenho. Nesses casos, o uso de portadores é muito importante, pois é mais fácil observar neles a presença dessa feomelanina indesejável, ou seja, é mais fácil “limpar” ágatas e isabelinos opalinos, usando-se portadores “limpos”.
Novamente o acasalamento de dois puros não prejudica a qualidade melânica da prole. Não existe nada na teoria ou na prática que contrarie isso.
No caso dos verdes opalinos, o prejuízo do acasalamento entre dois puros, quando ocorre, é apenas em relação à plumagem.
No caso dos pastéis negros marrons oxidados, ágatas e isabelinos, bons exemplares clássicos (dentro dos padrões de concurso) normalmente produzem os melhores exemplares mutantes. Novamente o uso de dois puros não prejudica a herança melânica.
Os mesmos princípios valem também para os topázios e eumos.
Concluindo, podemos dizer sobre o uso dos portadores na linha escura o seguinte:
1) O uso de portadores normalmente resulta em prole mais numerosa e mais vigorosa;
2) O uso de portadores pode nos auxiliar na seleção melânica de uma linhagem de puros;
3) O acasalamento entre dois pássaros puros não produz qualquer efeito deletério em relação à qualidade das melaninas dos produtores.
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