Como é sabido o periquito ondulado apresenta diversas cores, tamanhos e variações na disposição das penas. Hoje falaremos de um factor de coloração, o albinismo, que tem vindo a tornar-se cada vez mais raro. Os periquitos albinos são caracterizados por terem as penas completamente brancas com, por vezes, reflexos azulados, os olhos vermelhos, o bico amarelo claro, as patas cor de rosa e o facto de os machos não terem a cera azul mas púrpura. É um pássaro que, embora não apresente cores variadas como quase todos os seus congéneres, é extremamente atraente, especialmente quando em bandos, contrastando com quase tudo à sua volta. Então porque é que tem vindo a tornar-se tão raro? A resposta é simples: é difícil arranjar machos e o tamanho destas aves é o chamado normal e não o inglês, o utilizado no estalão. Mas será assim tão difícil obter pássaros de qualidade de ambos os sexos? Esta mutação é, tal como o opalino, o canela, o asas de renda (ou lace-wing), o lutino e muitos outros, recessiva de características ligadas ao sexo. Por isso existem muitas fêmeas. Ao contrário dos machos, estas não podem ser portadoras. Porquê? Nos mamíferos os cromossomas sexuais são representados por XY para os machos e XX para as fêmeas. Ora nos pássaros a situação inverte-se (Z=Y, W=X): os machos são WW e as fêmeas são WZ. Ora o albinismo encontra-se no cromossoma W. Visto a fêmea só ter um cromossoma W não pode ser portadora, ou é albina ou não é. O macho por ter 2 cromossomas W pode ser portador de albino, albino ou não ter nada a ver com a mutação. Assim os seguintes cruzamentos, nos quais se utilizarão a cor azul para cruzar o albino, poderão ser utilizados (/ significa portador): Macho Albino x Fêmea Albino = 100% Albino Macho Albino x Fêmea Azul = 50% Machos Azul/Albino 50% Fêmeas Albino Macho Azul/Albino x Fêmea Albino = 25% Machos Azul/Albino 25% Machos Albino 25% Fêmeas Azul 25% Fêmeas Albino Macho Azul/Albino x Fêmea Azul = 25% Machos Azul 25% Machos Azul/Albino 25% Fêmeas Azul 25% Fêmeas Albino Macho Azul x Fêmea Albino = 50% Machos Azul/Albino 50% Fêmeas Azul Macho Azul x Fêmea Azul = 100% Azul Mas estes cruzamentos significam ter de utilizar periquitos albinos. E se não for possível encontrá-los, não se poderão utilizar outras cores para obtê-los? A resposta é sim. Neste caso terão de se encontrar dois casais, para evitar a consanguinidade quando se cruzarem os filhos. Os machos deverão ser lutinos (ave igual ao albino mas amarela com algumas penas nas asas e na cauda brancas e uma mancha branca em cada lado da face - ver imagem superior) e as fêmeas azuis. Os resultados serão: Macho Lutino x Fêmea Azul = 25% Machos Verde/Azul, Lutino (ou Albino) 25% Machos Azul/Albino 25% Fêmeas Lutino 25% Fêmeas Albino Note-se que no caso da ave ser verde dá lutino ou albino. Porquê? O periquito verde tem dois tipos de pigmentos, as melaninas (que dão a cor preta, azul e roxa) e as carotenóides (que dão a cor amarela). Se retirarmos as melaninas a ave é amarela. Se retirarmos as caretenóides, a ave é azul. Se retirarmos os dois pigmentos a ave é branca. Ora o gene Lutino/Albino caracteriza-se por retirar as melaninas de todo o corpo (sendo que a cor dos olhos e das patas vem do sangue, enquanto o bico e a cera não têm nenhum destes dois pigmentos apesar de continuarem coloridos). Então como é que aves tão diferentes podem ter o mesmo gene? A resposta é simples: o Lutino pertence ao grupo dos verdes ou amarelos, ou seja tem carotenóides. O albino pertence ao grupo dos azuis ou brancos, ou seja não tem caratenóides. Note-se ainda que o primeiro grupo é dominante em relação ao segundo, ou seja a presença de caratenóides é dominante em relação à sua ausência. Voltando aos cruzamentos, escolheremos os machos azuis (para evitar o aparecimento de pássaros lutinos em vez de albinos) e as fêmeas albinas, fazendo a troca de modo a evitar cruzar irmãos. O resultado será o referido anteriormente para o cruzamento: Macho Azul/Albino x Fêmea Albino. Obteremos assim a cor tão desejada pelo leitor. Mas como aumentar o tamanho? Basta que os 2 casais Lutino x Azul sejam ingleses, ou seja com o tamanho de acordo com o escalão. Deixo ainda alguns conselhos. Os periquitos criados dentro de casa (com uma temperatura quente e estável) têm tendência para dar mais fêmeas do que machos, enquanto que os criados na rua dão mais machos do que fêmeas. Se não obtiver os resultados exactamente como estão descritos em cima não se espante, pois tudo depende do gene que gala o ovo ou do gene que o mesmo possui. Se não conseguir o esperado nos primeiros cruzamentos não desespere. Tente fazer mudanças. Ponha o casal num sítio aquecido, como por exemplo, numa cozinha (abrigados dos vapores e maus cheiros) ou ponha-os na rua. Está provado que os casais alojados em gaiolas maiores têm um índice mais elevado de fertilidade. Dê-lhe por isso mais espaço. Não se tente a criar fêmeas que ponham muitos ovos. Muitos deles sairão provavelmente estéreis ou não serão galados pelo macho cansando a fêmea desnecessariamente. E se nascessem todos a fêmea e o macho esgotar-se-iam rapidamente deixando algumas ou até todas morrer à fome. Os próprios dejectos das crias, por serem em tão grande número acabariam por encher o ninho que teria de ser limpo uma vez todos os dias senão mais, e matá-las. Não use fêmeas com menos de um ano para criar no Inverno a não ser que estejam num lugar aquecido. Só assim se poderá evitar que a fêmea fique com o ovo entalado. Anilhe os seus pássaros. Mesmo que tenha apenas um casal, os pássaros serão valorizados por se conhecer a idade, quem os criou, e até de que pais vêm. Assim, espero ter contribuído para o aumento do número de aves desta mutação tão amada por que a conhece e possui, e ter apaixonado quem não a conhece ou nunca a viu. Divirta-se e descubra as qualidades destas pequenas mas muito amadas aves que são os periquitos ondulados. |
9 de ago. de 2011
O albinismo nos periquitos ondulados
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