Ivomec® : Mocinho? Vilão? Ou outra vítima de mau uso???
Por: Rodrigo Silva Miguel
É médico veterinário e Criador de aves ornamentais - CCCC - 293
l- Introdução
O uso do Ivomec na criação de aves ornamentais começou como o de vários outros
medicamentos, como antibióticos, antiinflamatórios, etc.: com adaptações de fármacos
produzidos para mamíferos como cães, bovinos e até mesmo humanos, ou da avicultura
de produção, onde considerando-se os pesos das aves, as doses são altíssimas.
A rigor esta atitude não é condenável pelo fato de que naquela época e até mesmo
hoje haver uma carência de medicamentos específicos para passeriformes. Essa prática
pode e até deve continuar por facilitar o tratamento de nossas aves, porém, se algumas
observações básicas não forem feitas, isso pode levar ao fracasso, o melhor plantel do
mundo.
A ivermectina (Ivomec está no mercado desde 1981 e até hoje é um dos
antiparasitários de maior sucesso no tratamento de endoparasitas (nematóides),
ectoparasitas (ácaros e piolhos sugadores). Isto se deve por sua ação particular no
sistema nervoso (GABA) dos parasitas, o que dificulta o aparecimento de resistências.
Por essa capacidade de ação no sistema nervoso, começou-se a estudar uma possível
ação, do fármaco no sistema nervoso dos hospedeiros (aves, bovinos, cães, etc.).
detectando-se alguns efeitos colaterais em algumas raças de cães e também em animais
que receberam superdosagem. Esses efeitos colaterais variam de incordenação motora e
tremores transitórios, perda de fertilidade por algum tempo em mamíferos até mortes em
alguns casos.
Devido à carência de estudos a respeito do uso e efeitos colaterais de ivermectina em
aves, decidimos desenvolver um trabalho específico, em conjunto com o departamento de
Farmacologia, Toxicologia e Patologia da USP, patrocinado pelo CNPq. Este trabalho
ainda está em andamento sob os estudos da Dra. Camila G. Pontes (formanda da USP),
e a cada nova fase, mais subsídios são somados aos resultados demonstrados a seguir:
II - Objetivos
A intenção de se tratar a ação e os possíveis efeitos colaterais da ivermectina em aves
teve como principais objetivos confirmar a eficácia da dose recomendada no tratamento
de endo e ectoparasitas, determinar os efeitos na reprodução (número de ovos, ovos
brancos, morte embrionária e viabilidade de filhotes), além de fixar o que seria uma
superdosagem prejudicial às aves.
Foram usados 36 casais de manons (Munia demonstica) em gaiolas separadas onde
observou-se por 2 ninhadas os parâmetros reprodutivos acima indicados. Os dados foram
anotados e logo após essas duas ninhadas. os casais foram divididos em quatro grupos
para a administração da droga.
Grupo 1 - Controle injetado apenas propilenoglicol* (diluente)
Grupo 2 - Machos tratados com Ivomec
Grupo 3 - Fêmeas tratadas com Ivomec
Grupo 4 - Casal tratado com Ivomec
A aplicação foi feita na dose de 0,01 ml por kg de peso vivo (dose recomendada na
literatura) por via intramuscular peitoral. Para conseguir um volume significativo para a
aplicação houve necessidade de diluição do Ivomec em propilenoglicol. Observou-se a
reprodução e na análise das ninhadas houve um aumento na produtividade (número de
ovos e de filhotes) explicado pela desparasitação das aves.
A partir desta constatação começamos a aumentar as doses na ordem de 10 vezes
para cada ninhada onde começaram a aparecer alterações reprodutivas como queda do
número de ovos e/ou queda de fertilidade (ovos brancos).
Hoje o experimento continua e já está em uma dose bastante elevada sem apresentar
sinais clínicos de efeitos nas aves, a não ser diminuição da reprodução.
III - Conclusões
1 - Confirmou-se a eficácia do Ivomec no tratamento de endo e ectoparasitas das aves
ornamentais.
2 - Confirmou-se a dose recomendada e a ausência de efeitos colaterais tanto nas
aves quanto na sua reprodução nessas condições.
3 - Confirmou-se o efeito prejudicial se usado em dose errada ou de forma continua.
4 - Em dosagens muito elevadas pode provocar convulsões, tremores, cegueira e até
morte.
5 - É o medicamento de maior eficácia para o tratamento de ácaro de traquéia e com
os resultados rápidos
6 - Pela dificuldade de diluição a campo, foram feitas algumas adaptações como
colocar uma gota de seringa de insulina na musculatura do peito, ou usar a formulação
Pour-on (azul) pingando no bico ou na nuca da ave.
7 - Seguindo essas formas de administração, não se consegue atingir doses
prejudiciais podendo ser usado com segurança tanto para a ave quanto para a sua
reprodução.
8 - O único cuidado deve ser com a época e a freqüência de administração do Ivomec,
que deve ser determinada pelo veterinário responsável pelo plantel de acordo com a
espécie, época de reprodução e grau de parasitismo.
IV - Considerações Finais
Esses dados foram extraídos de trabalho científico realizado por nós dentro da
faculdade de Medicina Veterinária da USP e confirmados na prática em nossa criação
situada no município de Batatais, São Paulo, onde tratamos diferenciadamente 3000
matrizes de 28 espécies de aves.
Revista Técnica Anual / junho 1998
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